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Perdemos o líder, mas não os ensinamentos...

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  • há 7 dias
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Atualizado: há 6 dias

A notícia

Um dia após ganhar um abençoado presente de Páscoa, direto da Praça de São Pedro, em Roma, o mundo foi impactado com uma triste notícia.

O Papa Francisco, autor do presente em forma de bênção, havia, ele mesmo, feito a sua Páscoa definitiva.

Mesmo incrédula com a notícia, a comunidade mundial se mobilizou da forma que o Papa Francisco mais gostava: rezando por ele.

De diferentes países chegavam notícias de ações comoventes: de orações realizadas nas ruas à escultura feita na areia da praia para agradecer e retribuir o acolhimento recebido por um Papa que falou de união, diálogo e respeito entre os diferentes.

A noticia oficial chegou por meio de um vídeo, no qual o Cardeal Kevin Farrell, camerlengo do Vaticano, confirmou a morte do pontífice.

"Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que devo comunicar a morte do nosso santo papa Francisco.

Às 7h35 desta manhã, o bispo de Roma Francisco retornou à casa do Pai.

Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua igreja.

Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, e de modo particular em favor dos mais pobres e marginalizados.

Com imensa gratidão pelo seu exemplo, como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Uno e Trino", disse a mensagem lida pelo carmelengo.

De imediato, os principais telejornais do país mudaram as suas pautas, destinando a totalidade do seu tempo de transmissão ao resgate do legado deixado pelo Papa.


O legado

Entre as curiosidades, o argentino Jorge Bergoglio, primeiro Papa da América Latina, foi também o que mais canonizou, o que mais expandiu a estrutura geopolítica do seu cardinalicio, o que incluiu mulheres na estrutura de poder da Santa Sé, o que visitou lugares nunca antes incluídos nas visitas papais, o que abriu mão de benefícios próprios da função, o que propôs uma revisão interna da Igreja, tanto estrutural como dogmática, e o que priorizou os pobres e excluídos ao olhar para as periferias do mundo.

O Santo Padre realizou, ainda, enfrentamentos importantes, quando apontou e denunciou situações de injustiça social e pediu providências para questões relacionadas ao clima e a problemas humanitários de grande vulto, como as imigrações. Foi sob a sua influência que acordos internacionais de pacificação foram costurados, a exemplo da aproximação entre Cuba e Estados Unidos.

Ele foi o porta-voz da paz em um mundo marcado pelas guerras, sejam elas de pequena ou grande escala.

Sua postura, coerente com os valores de Evangelho, falou mais do que os habituais discursos papais.

No Consistório de 21 de fevereiro de 2001, João Paulo II criou-o cardeal, atribuindo-lhe o título de São Roberto Bellarmino. Na ocasião, ele pediu aos fiéis para não irem a Roma festejar a nomeação, mas destinar aos pobres o dinheiro que gastariam com suas viagens.

Foi dessa forma, com exemplos, que ele mostrou ao mundo a sua decisão de seguir os passos de Jesus, inclusive se desculpando quando errava.

Além de escolher essa atitude no âmbito particular, Francisco também foi capaz de pedir perdão por erros cometidos pela Igreja, em áreas sensíveis e controversas, como as que trouxeram à tona escândalos ligados à pedofilia e corrupção na área financeira, situações das quais o Papa confessou envergonhar-se.


As realizações

Do alto dos seus 75 anos, idade com a qual foi eleito o líder de número 266 da Igreja Católica, o Papa nomeou, ao longo do tempo, 109 dos 252 integrantes do Colégio dos Cardiais do Vaticano.

Além disso, mais de 900 santos foram conhecidos no seu papado, incluindo seus antecessores, os Papas João XXIII, João Paulo II e Paulo VI.

Ele também beatificou mais de 1300 pessoas, e de maneira especial podemos citar a agricultora baiana Maria Milza dos Santos Fonseca, que viveu em Itaberaba, no interior da Bahia. Por sua vida de oração e dedicação aos pobres, teve o processo de beatificação autorizado pelo Vaticano no último dia 15.

Durante o tempo que ficou à frente da Igreja, o Papa Francisco fez 47 viagens ao exterior, sendo a primeira delas para participar da Jornada Mundial da Juventude, realizada no Brasil, em 2013.

Em solo italiano, realizou mais 37 viagens, totalizando 465 mil quilômetros de deslocamento.

Foi autor de quatro encíclicas que encataram o mundo, abordando temas importantes com sensibilidade, objetividade e profundidade: A primeira delas, ainda em em 2013, é chamada Lumen fidei (Luz da Fé). Em 2015, veio a encíclica Laudato Si (Louvado Seja) onde ele fala do cuiddo com a Casa Comum e pede ação urgente contra as mudanças climáticas.

Em 2020, a Fratelli Tutti (Todos Irmãos) veio falar de solidariedade em meio ao sofrimento provocado pela pandemia da Covid-19.

Por fim, em 2024, Francisco pede ao povo de Deus que não se esqueça do amor misericordioso do Pai, com o último dos quatro importantes documentos: a encíclica Dilexit nos (Ele nos Amou), onde ele fala do amor humano e divino do Coração de Jesus.

Para os baianos, a maior das realizações foi a canonização de Irmã Dulce, em 2019, que fez o Anjo Bom da Bahia passar a ser chamado de Santa Dulce dos Pobres.

Também escreveu os livros: Meditações para  religiosos (1982); Reflexões sobre a vida apostólica (1986) e Reflexões de Esperança (1992).

Apesar do dom das palavras, o Papa transmitiu suas maiores mensagens com imagens inesquecíveis, como a oração solitária no imenso espaço vazio da Praça de São Pedro, no dia 27 de março de 2020, quando a pandemia começava a se espalhar pelo mundo.

O acolhimento em carro aberto, burlando muitas vezes o esquema de segurança, também o diferenciou dos papas anteriores, conferindo-lhe o título de "Papa do Povo".

Defendia o bom humor como um certificado de sanidade capaz de humanizar as pessoas, e ele próprio buscava mantê-lo no seu trabalho sacerdotal.


A história

Jorge Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936.

O pai, Mario Bergoglio, era contabilista e sua mãe, Regina Sivori, dona de casa. O casal teve cinco filhos.

Apesar de diplomar-se como técnico químico, Jorge escolheu o sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. No dia 11 de março de 1958 entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanísticos no Chile e, de volta para a Argentina, obteve a licenciatura em filosofia no colégio de São José em San Miguel, em 1963. De 1964 a 1965 foi professor de literatura e psicologia no colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966 ensinou estas mesmas matérias no colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970 estudou teologia, licenciando-se também no colégio de São José.

Foi ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969. Nos anos seguinte, 1970 e 1971, deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, na Espanha, e a 22 de abril de 1973 emitiu a profissão perpétua nos jesuítas.

Regressando para a Argentina, foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel, professor na faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do colégio.

No dia 31 de julho de 1973 foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do colégio de São José, e inclusive pároco em San Miguel. No mês de março de 1986 partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento; em seguida, os superiores enviaram-no para o colégio do Salvador em Buenos Aires e sucessivamente para a igreja da Companhia, na cidade de Córdova, onde foi director espiritual e confessor.

Atendendo a um convite do cardeal Antonio Quarracino para ser o seu estreito colaborador em Buenos Aires, na data de 20 de maio de 1992 João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. No dia 27 de junho recebeu a ordenação episcopal das mãos do cardeal e escolheu como lema: Miserando atque eligendo, e no seu brasão inseriu o cristograma IHS, símbolo da Companhia de Jesus.

Concedeu a sua primeira entrevista como bispo a um pequeno jornal paroquial, “Estrellita de Belén”.

Tendo sido imediatamente nomeado vigário episcopal da região Flores, a 21 de dezembro de 1993 foi-lhe confiada a tarefa de vigário-geral da arquidiocese. Portanto, não constituiu uma surpresa quando, a 3 de Junho de 1997, foi promovido Arcebispo Coadjutor de Buenos Aires. Mas nove meses depois, com o falecimento do cardeal Quarracino, em 28 de fevereiro de 1998 assume como Arcebispo, Primaz da Argentina e ordinário para os fiéis de rito oriental residentes no país e desprovidos de ordinário do próprio rito. Também foi grão-chanceler da Universidade Católica argentina.

Três anos mais tarde, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001, João Paulo II criou-o cardeal, atribuindo-lhe o título de São Roberto Bellarmino.

Em outubro de 2001 foi nomeado relator-geral adjunto da décima assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, dedicada ao ministério episcopal, onde sublinhou de modo particular a “missão profética do bispo”, o seu “ser profeta de justiça”, o seu dever de “pregar incessantemente” a doutrina social da Igreja, mas também de “expressar um juízo autêntico em matéria de fé e de moral”.

Apesar da popularidade na América Latina, em 2002 recusou a nomeação a presidente da Conferência Episcopal Argentina, mas três anos mais tarde foi eleito para tal cargo e depois confirmado por mais um triênio em 2008.

Em abril de 2005, participou no Conclave que elegeu o Papa Bento XVI.

Como arcebispo de Buenos Aires — diocese com mais de três milhões de habitantes — pensou num projeto missionário centrado na comunhão e na evangelização, com quatro finalidades principais: comunidades abertas e fraternas; protagonismo de um laicato consciente; evangelização destinada a cada habitante da cidade; assistência aos pobres e aos enfermos. O seu objetivo era reevangelizar Buenos Aires, “tendo em consideração os seus habitantes, o modo como ela é e a sua história”. Convidou sacerdotes e leigos a trabalharem juntos. Em setembro de 2009 lançou a campanha de solidariedade a nível nacional, em vista do bicentenário da independência do país: duzentas obras de caridade a realizar até 2016.

Por fim, em 12 de março de 2013, Francisco era anunciado como Papa.


A saúde

Papa Francisco faleceu às 2h35 do dia 21 de abril, pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local.

Tendo como causa da morte insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), a saúde do pontífice estava enfrentando dificuldades progressivas.

Tudo começou no dia 14 de fevereiro, quando foi internado com bronquite, em estado febril. Três dias depois, o Vaticano confirmou que o quadro evoluíra para uma infecção polimicrobiana respiratória, caracterizando a situação como “complexa".

Ainda em fevereiro, o Papa foi diagnosticado com uma pneumonia bilateral, ou seja, evidenciada nos dois pulmões.

Junto ao fato do Santo Padre ter parte de um dos pulmões retirada quando tinha apenas 20 anos, decorrente de uma severa crise respiratória, e da crise asmática prolongada que sofreu no hospital, seu estado de saúde piorou.

No dia 23 de fevereiro, foi acrescido ao quadro a constatação de que ele havia sofrido de insuficiência renal leve.

No dia 28, apesar de ter saído do estado crítico, foi vítima de uma crise isolada de broncoespasmo que causou um episódio de vômito com inalação e um rápido agravamento do quadro respiratório.

Submetido a broncoaspiração e ventilação mecânica, a equipe optou por terapias mais agressivas para não deixá-lo morrer.

No início de março, o Papa teve dois episódios de insuficiência respiratória aguda, mas cerca de dez dias depois, radiografias mostraram uma evolução positiva no seu estado de saúde, o que impressionou os médicos. Apesar da evolução, o papa continuava recebendo oxigênio de alto fluxo de dia e máscara mecânica não invasiva durante o sono, à noite.

Curado da pneumonia e já de alta, Francisco participou do Domingo de Ramos no Vaticano e seguiu com atividades habituais, apesar da recomendação de repouso e da locomoção limitada, decorrente das fortes dores no joelho e na coluna.

Mesmo com a aparente melhora, ficou evidente o esforço que o Papa fez para falar e abençoar os fiéis que se aglomeraram na Praça de São Pedro no último domingo, com o objetivo de receber aquela que seria a última bênção do pontífice.


A Igreja sinodal

No dia da eleição do Papa Francisco, em 2013, o cardeal Cláudio Hummes, já falecido, então emérito da Arquidiocese de São Paulo, disse ao Arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, algo que influenciaria profundamente o seu pontificado: “Não se esqueça dos pobres”.

Essa frase inspirou, segundo o próprio Papa Francisco, seu magistério, fazendo-o escolher o nome do santo que abriu mão da riqueza para dedicar sua vida aos pobres.

No dia do falecimento do Papa, paróquias de todo o país celebraram as Santas Missas em intenção de Francisco.

O falecimento do pontífice também levou o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a suspender a 62ª Assembleia Geral da CNBB, agendada para o período de 30 de abril a 9 de maio. O evento foi transferido para o período de 15 a 24 de abril de 2026.

Além da participação no funeral do Papa, sete cardeais brasileiros participarão como eleitores do próximo conclave, responsável por eleger mais um pontífice.

Dentre eles, está Dom Sérgio da Rocha, Cardeal Arcebispo da Arquidiocese de Salvador e Primaz do Brasil, integrande do Conselho de Cardeais criado pelo Papa Francisco com a tarefa de auxiliá-lo no governo da Igreja universal e de estudar um projeto para a revisão da Cúria Romana.

A primeira reunião do C9 ocorreu em 1º de outubro de 2013.

O Papa Francisco manteve um diálogo fraterno com a Igreja no Brasil, para onde enviou importantes mensagens, como a que transmitiu de viva voz durante o Encontro Mundial da Juventude, em 2013, e as que foram lidas em alusão à Campanha de Fraternidade e assembleias gerais da CNBB, entre outras.

Tais mensagens foram importantes para refletir sobre o papel da Igreja no contexto atual do país.


O testamento


O testamento espiritual deixado pelo Papa Francisco pode ser resumido em uma única palavra: simplicidade. A mesma que é percebida no desejo de ter escrito na sua lápide um único nome: "Franciscus". Leia na íntegra:


"Em Nome da Santíssima Trindade. Amém.

Sentindo que se aproxima o ocaso da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar a minha vontade testamentária somente no que diz respeito ao local da minha sepultura.

Sempre confiei a minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem, esperando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.


Desejo que a minha última viagem terrena se conclua precisamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde me dirigia para rezar no início e fim de cada Viagem Apostólica, para entregar confiadamente as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo dócil e materno cuidado.

Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho do corredor lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza desta mesma Basílica Papal, como indicado no anexo.


O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus.

As despesas para a preparação da minha sepultura serão cobertas pela soma do benfeitor que providenciei, a ser transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e para a qual dei instruções apropriadas ao Arcebispo Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Cabido da Basílica.

Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e que continuarão a rezar por mim. O sofrimento que esteve presente na última parte de minha vida eu o ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.

Santa Marta, 29 de junho de 2022".


O sepultamento do Papa Francisco vai ser realizado no local solicitado por ele, no sábado (26), após o seu corpo permanecer na Basílica de São Pedro por três dias para visitação dos fiéis.


A fé

Na sua última aparição pública, no Domingo de Páscoa, o Papa transmitiu uma mensagem ao mundo, que foi lida por um clérigo assistente direto da sacada onde Francisco costumava saudar e abençoar as pessoas.

Fazendo alusão à ressurreição de Cristo, o Papa ressaltou que "o amor triunfou sobre o ódio, a luz sobre as trevas e a verdade sobre a falsidade".

Em outro trecho, ela enfatiza que "O perdão triunfou sobre a vingança. O mal não desapareceu da história; permanecerá até o fim, mas não tem mais predomínio; não tem mais poder sobre aqueles que aceitam a graça deste dia."

Apesar dessa certeza, ele pediu atenção com a violência que aparece, não só nos conflitos mundiais, mas dentro da própria família, dirigida a mulheres e crianças. "Quanto desprezo é, por vezes, despertado para com os vulneráveis, os marginalizados e os migrantes", pontuou ele, fazendo um pedido especial:

"Neste dia, gostaria que todos nós renovássemos a esperança e renovássemos a nossa confiança nos outros, incluindo aqueles que são diferentes de nós, ou que vêm de terras distantes, trazendo costumes, modos de vida e ideias desconhecidos! Pois todos somos filhos de Deus".

"Gostaria que renovássemos a nossa esperança de que a paz é possível", escreveu o Papa.

Silvana Lima (Pascom)


Fontes: Vatican; CNBB; Arquidiocese de Salvador; Canção Nova; G1

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